sábado, 8 de outubro de 2011

A mãe que nasceu...



Sem qualquer pretensão de tornar este blog um diário sobre a minha vida de mãe, aqui vai a continuação do post anterior.

Minhas primeiras semanas em casa, na volta do hospital, foram bastante tumultuadas. E não foi só por causa da Clara não!!!
Por falta de instrução da médica, e pura falta de ideia minha, eu deixei de tomar o complemento de ferro que havia começado a tomar dois meses antes do parto, já que o ferro estava baixo no meu sangue.
Resultado: perdi muito sangue na cirurgia e acabei ficando anêmica! Só fui descobrir isso na semana seguinte ao nascimento da Clara, quando fui parar no hospital superinchada, com formigamento nas mãos e pés e sensação constante de desmaio.
Junte-se a isso o corte da cesárea, que não me deixava andar e nem deitar direito, e os altos e baixos dos hormônios que me fizeram chorar, sem motivo aparente, por quase duas semanas! Ah, claro, junte também o fato de eu ter que amamentar a Clarinha a cada duas horas, porque ela tinha que voltar ao peso que tinha quando nasceu.

Para minha sorte, minha mãe e o Pedro me deram a maior força, e eu me transformei numa mamadeira-gigante-quase-ambulante. Sim, porque eu não fazia nada mais do que amamentar a Clara. Ah, sim, e chorar!!! Eu queria conseguir cuidar da minha filha, mas não conseguia!!!

Todas as manhãs, minha mãe me preparava um suco de couve - que no início me causou estranheza, mas que é muito gostoso - e para o almoço e jantar sempre tinha carne, espinafre, beterraba, brocoli, feijão, mais couve... só não chupei prego! Com isso meu nivel de ferro voltou ao normal em cerca de um mês. E o Pedro realmente se transformou num paizão!!! Eu o via curtindo a Clara, tirando fotos, colocando musiquinhas... e não tinha forças pra curtir junto. Não que eu não estivesse feliz... mas esse negócio de hormônio é mesmo muito louco!!!

Engraçado que exatamente um dia antes de eu começar a chorar, uma enfermeira ligou aqui em casa para saber como estavam as coisas (é de praxe isso por aqui. Elas ligam para saber como estão os primeiros dias, se tem alguém me ajudando, como está a amamentação, como o bebê está dormindo, como está a troca de fraldas... enfim, é uma conversa supercompleta - durou uns 40 minutos - sobre os primeiros dias da mãe e do bebê) e uma das perguntas que ela me fez foi se eu estava triste e com vontade de chorar. Lembro que na hora pensei: "que mulher sem noção! Estou passando pelo momento mais feliz da minha vida, e ela pergunta se estou triste?!!"

Conversando com meu médico, ele me tranquilizou. Disse que se eu não tivesse vontade de ficar perto da Clara, ou de amamenta-la, configuraria uma depressão pós-parto - o que não foi o caso!! Apesar de muito cansada, eu estava gostando do fato de ter que amamenta-la a cada duas horas. Era uma maneira de me sentir útil para ela.

Felizmente, do mesmo jeito que veio, o chororô foi embora. A dor do corte ainda me acompanhou por quase um mês... Mas tudo foi se ajeitando!

Minha mãe, que havia chegado 3 dias antes da Clarinha nascer, voltou pro Brasil 3 dias antes dela completar 2 meses. Nesse meio tempo, minha sogra veio pra conhecer a Clara e passou duas semanas aqui com a gente.

Agora somos só nós três! (Ops... semana que vem chega mais visita!! Oba!! Mas essa é uma outra história!)

Estou amando ser mãe! A Clarinha é uma criança muito calminha. Ganhou 2Kg desde que nasceu - está com 4,8. De uns dias pra cá ela começou a dar risadinhas "com som"! Já nos acompanha com os olhos e adora observar o mobile rodando sobre ela no berço!! Ainda acorda no meio da noite para mamar, mas as mamadas, que no início duravam uns 45 minutos, agora não chegam a 15. Tem crises de cólicas de vez em quando, mas todos dizem que somos sortudos, porque ela não é de chorar!! É muito gostoso ver como a cada dia que passa ela vai descobrindo novas coisas!! Eu e o Pedro morremos de orgulho com toda e qualquer coisinha diferente que ela faz!! Ela já dorme no quartinho dela desde que tinha uns 20 dias. E eu durmo de antena ligada no monitor da babá eletrônica! E como ela gosta de tomar banho!!! Fica super quietinha, olhando para mim o tempo todo, e prestando atenção a tudo o que falo pra ela!

Semana passada, quando completou 2 meses, a Clara tomou a primeira bateria de vacinas! Agora ela já está apta a furar as orelhinhas!!! Aqui no Canada não é como no Brasil, que algumas meninas já saem de brinquinhos do hospital, assim que nascem! Aqui a gente precisa apresentar a carteirinha de vacinação... E mesmo já podendo furar as orelhas com alguns meses de vida o pessoal aqui não fura logo não! É possível contar nos dedos o número de meninas que usam brincos lá no day care onde trabalho!

Meus dias com a Clara até que estão movimentados... Agora que estou sozinha com ela tenho muito o que fazer, e aproveito o tempo que ela está dormindo - ela dorme bastante! - para cuidar da casa, da roupa, e de mim! Procuro sair todos os dias de carrinho para ela tomar um pouco de sol - enquanto ele ainda está quentinho! Daqui a pouco os passeios vão ter que ser dentro do shopping!

Estou frequentando, uma vez por semana, um grupo chamado Babyville, com mães e bebês de até 6 meses de idade. Em uma hora e meia, as mães trocam experiências e tiram dúvidas sobre vários tópicos da maternidade, sob a mediação de uma enfermeira.

Enfim... quando nasce uma mãe, nasce junto muito trabalho. E eu acho que tenho desempenhado bem essa minha nova função. Adoro me dedicar à Clara. Ser mãe tem feito de mim uma pessoa melhor (pelo menos assim eu espero!). É preciso ser bom para dar bons exemplos.

E como hoje não estou muito inspirada, vou colar de mim mesma algo que escrevi no Facebook uns dias atrás:

Se eu soubesse que era tão bom, teria sido mãe antes!! E isso inclui ficar acordada de madrugada, tentar decifrar diferentes tipos de choro, e até trocar fraldas recheadas! O fato de ter uma vidinha totalmente dependente de mim, antes me assustava. Hoje faz de mim uma pessoa melhor. O sorrisinho da Clara - ainda que por enquanto involuntário -, as pequenas descobertas do dia-a-dia, o cheirinho gostoso de bebê... compensam as minhas olheiras. Filhos: eu recomendo! =)


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nasce uma mãe



Logo que a Clara nasceu, o namorado de uma prima, que é estudante de medicina, me disse que os professores dele costumam dizer: "sempre que nasce uma criança, nasce uma mãe". Gostei muito dessa frase e, baseando-me nela, vou contar como tem sido a minha vida desde o meu nascimento, há dois meses. O nascimento da mãe-Daniela.

A vontade de ser mãe sempre foi grande, mas engraçado que quando engravidei, junto com a vontade nasceu um medo!! Uma insegurança... um sentimento de: "eu?!! Mãe?!!" Durante a gravidez esse medo sumiu e eu curti bem cada momento das transformações do meu corpo! Estava adorando ver minha barriga crescer, e graças a Deus tive uma gravidez tranquila (apesar do probleminha da placenta).

Acontece que o tempo passa rápido... e o dia foi se aproximando... e eu tinha que organizar as coisinhas do bebê... e... o medo voltou! Grande! Enorme!!! Beirando o pavor!!!!! As roupinhas estavam lá para eu lavar e organizar, mas eu adiava essa tarefa a cada dia que passava. Logo que eu engravidei e que minha mãe resolveu que viria ficar comigo, ela disse que me ajudaria com as roupas. Mas o que não estava nos planos era que o parto seria antecipado em 18 dias! Resultado: minha mãe, que já estava com passagens compradas, chegaria num sábado e o bebê nasceria na terça-feira seguinte! As roupas tinham que ser organizadas por mim. Não tive escapatória. Lavei tudo e sabe que me diverti?! Coloquei tudo bonitinho em saquinhos plásticos, tirei mil fotos, abria e fechava as gavetas da cômoda umas 50 vezes por dia! O medo sumiu de novo!! Maaaasss... com a chegada da minha mãe, eu me dei conta de que o dia realmente estava se aproximando. Não me esqueço uma cena: minha mãe mexendo nas coisas do bebê, na véspera do parto, e eu petrificada, só olhando. De repente desabei a chorar: "eu não vou conseguiiiirrr!!!! Vou ter uma criança totalmente dependente de mim!! E agora?!!!"

Agora é hora de ir: car seat, mala do baby, mala da mãe... Vamos pro hospital! Terça-feira, 2 de agosto, por volta de 1 da tarde. Eu estava em jejum desde a meia-noite da segunda-feira.

A vantagem de ter tido que fazer cesárea foi esta: hora marcada, sem sustos, nem correria. A desvantagem: fome!!
Fizemos praticamente uma festa no hospital. Além de mim, da minha mãe e do Pedro, tinha mais 6 pessoas lá com a gente, na sala de espera. Nossos fiéis escudeiros. Amigos de todas as horas. Nossa família canadense (brasileira).

Fui informada de que a médica chegaria por volta das 4h30 para a cirurgia. Lá pelas 3, me disseram que ela se atrasaria um pouco, mas que até umas 5h30 ela já estaria no hospital. Às 4 horas eu pedi para me colocarem no soro, porque a sede era grande (a fome, a essas alturas, já tinha até passado!). O tempo foi passando e a ansiedade era geral. Graças à tecnologia e ao meu querido iPhone, fiquei em contato com minha irmã e irmão, várias amigas (do Brasil e daqui) e praticamente todas as minhas primas, que fizeram uma "sala de espera virtual" no Facebook. Bom... quando eram quase 7 da noite a médica apareceu, e ainda teve a coragem de fazer uma piadinha: "vamos deixar a cesárea pra amanhã?" ahamm!!!

Chegou a hora! Fui andando para a sala de cirurgia, não sem antes dar um beijo na minha mãe e amigas. O Pedro foi comigo, mas, antes de deixarem ele entrar entregaram uma roupa verdinha para ele vestir.

A sala de cirurgia me lembrou o laboratório da minha antiga escola. Fria... paredes de azulejo... balcões, pias... Me pediram para sentar na cama estreita e várias pessoas vieram se apresentar. Todas de touca. Todas iguais. Todas sorridentes... menos eu! Eu estava era muito tensa!! Perguntei pelo Pedro, e falaram que ele entraria quando eu estivesse pronta.

Chegou a hora de tomar a anestesia. Não que tenha doído, mas a sensação da agulha entrando nas costas é bem estranha. Lembro que soltei um "ai..." e a enfermeira que estava na minha frente pediu que eu abaixasse a cabeça. Ela estava me "abraçando". E esse é o único rosto - dentre todos os outros que estavam em volta de mim - do qual eu me lembro.

Deitei na cama, com a ajuda de (talvez) umas três pessoas. Braços abertos... soro, aparelho monitorando pressão e coração... Perguntei, mais uma vez, pelo Pedro. A resposta foi a mesma. Comecei a rezar. (Agora preciso fazer um parênteses... alguns dias antes, vi pela internet, a propaganda da Nissan, em que aparecem os "pôneis malditos". E juro - não é piada! - esses pôneis malditos me acompanharam num dos momentos mais importantes da minha vida! Era eu começar um "Pai Nosso... pôneis malditos, pôneis malditos...". Mudei pra "Ave Maria... pôneis malditos, pôneis...") Desisti de rezar. Reconheci a minha médica dentro de uma roupa verde + touca. Ela perguntou: "você está sentindo alguma coisa?" eu disse que não... e ela: "é que eu ainda não comecei a cortar!" Será que essa mulher tá fazendo piada de novo?!! Cadê o Pedro?! Dessa vez não fui em quem perguntou... ouvi alguém perguntar: "doutora, pode chamar o pai?"" e ela: "Ops... ele não está aqui?". Olhei para o lado. Lá estava o Pedro. De touca. Mais um rosto conhecido.

Não sei precisar quanto tempo depois de o Pedro ter chegado, mas foi super rápido: percebi uma movimentação, e a anestesista, que estava o tempo todo do meu lado, disse: "oh, she is so cute!" e eu, imediatamente: "she?!!" - ela: "she!!!". O Pedro: "it's a girl?!" ela: "oh, yeah!" eu: "it's a girl??!" (ninguém respondeu) eu: "é menina, amor?!" hahaha (não que eu me lembre desses diálogos! Está tudo registrado no video que o Pedro gravou). A alegria de ter tido uma menina era tão grande que eu não acreditava! A Clara nasceu!! A minha Clarinha!!!

Nasceu uma mãe. Nasceu um pai. Nasceram avós e avô corujas e tios orgulhosos. Nasceu uma bisavó (a outra já é bisa há muito tempo!) Nasceram tias-bisas, tias e tios-avós, primas e primos-tios. Nasceram até avós postiços, mas não menos amorosos. Nasceu a pessoa mais importante da minha vida. Nasceu a minha filha: Clara Assunção Tuccori.

... to be continued