quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um casamento diferente

Semana passada fui a um casamento judeu aqui em Toronto. Uma das minhas colegas do College é de família judia e convidou, além de mim, uma outra colega (russa) para o casamento da irmã dela. Como ela estava super empolgada com a ocasião, achei que seria chato deixar de ir... e eu também estava bem curiosa pra saber como seria esse casamento, já que a família segue à risca toooodas as regrinhas da religião. Pra vocês terem uma ideia, na casa dessa minha amiga existem duas cozinhas, porque derivados de leite não podem misturar com carne. Então eles têm duas pias, duas lava-louças, dois microondas, duas geladeiras, e por aí vai! E quando se trata de relacionamento entre casais, também têm várias regras. A noiva do casamento que eu fui começou a "namorar" o noivo em Abril deste ano. Coloquei namorar entre aspas, porque esse namoro se limita a conversas... eles não podem nem pegar nas mãos! (ainda bem que isso só durou dois meses né! heheh). Depois que a mulher se casa, ela deve cobrir os cabelos, então a maioria das mulheres judias usam peruca. Quando fui à casa dessa família, não teria percebido que a mãe da minha amiga estava de peruca se ela não tivesse me falado. No quarto do casal têm sempre duas camas. Isso porque quando a mulher está menstruada, o homem não pode encostar nela. Se nesse período ela precisa entregar alguma coisa para o homem, por exemplo, um copo... ela deve colocar o copo na mesa, e depois que ela tirou a mão do copo, o homem pode pegar. Isso entre muitas outras coisas, que não vou detalhar aqui senão o post fica muito grande, e eu quero mesmo contar como foi o casamento!
Pois bem... lá fui eu com a russa pro casamento! O Pedro não foi convidado porque como os homens ficam separados das mulheres o tempo todo, minha amiga quis evitar que ele ficasse deslocado por lá. Estava um calor de rachar, e lá fui eu, às 5 da tarde, com uma saia pra baixo dos joelhos e manga comprida, além de um lenço em volta do pescoço. Eu cheguei a vestir meia-calça, mas como estava derretendo, arranquei a meia antes mesmo de sair de casa. Um parêntesis: As mulheres não podem mostrar do joelho pra cima, nem do cotovelo pra cima. E nada de decote!
Chegando no local do casamento, fomos encaminhadas para a sala das mulheres. Lá estava a noiva sentada numa cadeira de rainha, com a mãe de um lado e a sogra do outro. Logo se formou uma fila para a mulherada cumprimentar a noiva. O vestido dela era como os nossos vestidos de noiva mesmo. Ops... não! Não era "tomara-que-caia"!!! Era de manga até o cotovelo! Mas bem bonito!
Depois de uns 40 minutos só vendo mulheres por todos os lados, começamos a ouvir uma cantoria se aproximando! Eram os homens, que estavam todos cercando o noivo, e entrando na "nossa" sala. Eles estavam muito alegres, cantando e batendo palmas. O noivo se aproximou da noiva, e minha amiga (irmã da noiva) entregou um véu para ele. Ele então pegou o véu e colocou na cabeça da noiva... e os homens se retiraram do mesmo jeito que entraram. Cantando, bem felizes!
Quando finalmente "nossa" sala voltou ao "normal", vi que a noiva estava com o rosto completamente coberto pelo véu... Mas não era um tule fininho não!! Era um pano grosso, branco, que tampava completamente o rosto da noiva. Segundo minha amiga explicou, isso significa que a noiva confia cegamente no noivo. Ela nem precisa vê-lo!
Bom... chegou a hora de irmos para o local da cerimônia, a sinagoga. Homens de um lado, mulheres do outro, e eu e a russa lá em cima, no mesanino, pra ver tudo nos mínimos detalhes!
O primeiro a entrar é o noivo, acompanhado da mãe. Assim que sobem ao altar, a mãe coloca uma espécie de jaleco branco no noivo. Isso simboliza a pureza dele, já que no dia do casamento todos os pecados são perdoados. Em seguida entraram mais algumas pessoas que imagino serem uma espécie de padrinhos... e a noiva surgiu amparada de um lado pelo pai, e de outro pela mãe. Eles estavam literalmente guiando a menina (de 21 anos!) porque ela não devia estar enxergando nada! Chegando ao altar, o pai fica do lado dos homens, e a sogra e a mãe começam a guiar a noiva em volta do noivo. Elas deram 7 voltas em volta dele! Isso significa que a noiva está "nas nuvens"!
E começa a cerimônia... Ah!! Os noivos ficam de frente para a "platéia" e é o celebrante quem fica de costas. Achei isso bem legal.
A maior parte da cerimônia foi em hebraico. De vez em quando eles cantavam umas músicas muito bonitas, mas pra falar a verdade eu não entendi bulhufas da celebração! A certa altura, alguém levantou o véu da noiva e ela tomou um gole de vinho... depois vim a saber que existem 7 bênçãos durante o casamento, e o vinho é tomado pelos noivos em uma dessas bênçãos. E a última coisa, a que marca o fim da celebração, e o começo do casamento, é quando é colocado um copo de vidro (enrolado num pano) no chão, e o noivo pisa com tudo pra quebrar. Na hora que quebra, a noiva tira o véu do rosto, e dá um abraço... na mãe dela!!!!!!!! Achei que nesse momento ela pudesse finalmente encostar no marido pela primeira vez, mas os casais (mesmo os casados há 50 anos) não podem se encostar em público.
A explicação que minha amiga me deu para o copo sendo quebrado... não colou! Ela disse que esse é um momento de tristeza... que apesar dos noivos estarem felizes, eles precisam nessa hora se lembrar que existe fome e pobreza no mundo. Tá! Prefiro a explicação que o Pedro sugeriu: é outra coisa que está sendo quebrada... rompida! Esse lance de pobreza deve ser o que eles explicam para as crianças!
Bom... os noivos saem da sinagoga cantando e dançando, acompanhados pelos homens... e as mulheres vão para o local onde vai ser servido o jantar dos convidados. Era um salão enorme, com uma cortina no meio. De um lado os homens, do outro, as mulheres. Nessa hora todos jantam (menos a família dos noivos, que jantarão mais tarde, todos juntos), e os noivos vão para uma salinha privada. EU ESPERO, DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO, QUE NESSA HORA ELES TENHAM PELO MENOS PEGADO NAS MÃOS!!
Quando acabamos de jantar, foi anunciado que os noivos estavam chegando. Então, os homens já trataram de ir buscar o noivo para o lado deles, e as mulheres buscaram a noiva para o nosso lado.
A festa foi muito animada, apesar da cortina separando os sexos! As mulheres fizeram uma roda em volta da noiva, e até eu e a russa nos juntamos a elas! Mas percebemos que as pessoas não queriam muito ficar de mãos dadas com a gente... Assim como na hora da fila do buffet, parecia que éramos fantasmas. As pessoas olhavam pra gente e furavam fila. Tá na nossa cara que não somos judias... foi a primeira vez que senti na pele o poder do preconceito!
Mas... voltando à festa: todos dançam de um jeito extremamente animado! Pulando, cantando... parece até carnaval! De repente apareceram umas bolas coloridas, sabe-se lá de onde... e depois o noivo apareceu por cima da cortina, sentado numa cadeira, levantado por alguns homens do lado de lá. Então, a noiva sentou numa cadeira e a mulherada fez o mesmo... Um espiando a festa do outro, por cima da cortina.
Como era uma segunda-feira, não podíamos abusar do horário, e quando fomos embora a festa ainda estava no auge!





Na foto, eu com a irmã da noiva (que tem 19 anos e está louca pra casar) e a russa.

Respeito a tradição deles... Não deve ser fácil viver desse jeito em pleno século 21... Deve ser mesmo muito emocionante o dia do casamento pra eles. Imagina!!! Tudo acontecendo ao mesmo tempo! Mas mesmo eu tendo namorado durante 8 anos com o Pedro antes de casar (e de ter tido outros namoradinhos antes) não acho que meu casamento tenha sido menos emocionante que esse! Pelo menos eu sabia muito bem com quem estava me casando!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Cuidado com a língua!!


Fim de tarde... seis mulheres reunidas num restaurante pra botar o papo em dia, e conversa vai, conversa vem, acabamos chegando num papo beeem cabeludo (que, por motivos óbvios, não será reproduzido neste blog!)

Tudo muito divertido, gargalhadas, e a sensação de "liberdade" de poder falar bobagem sem precisar cochichar, já que estamos no Canadá, sem brasileiros por perto, e ninguém entende o que estamos falando.

Lá pelas tantas, um senhor se aproxima da nossa mesa com um cartãozinho... falando um português com sotaque bem canadense, e misturando com inglês, ele estava fazendo propaganda de um lugar que toca música brasileira. Na mesma hora me arrependi de ter ido com uma camiseta nada discreta, verde limão, com a bandeira do Brasil. Pra falar a verdade nem prestei atenção no que o homem falava, porque a minha vontade era de me enfiar debaixo da mesa, imaginando que ele pudesse ter entendido tudo o que estávamos falando. Me deu um ataque de riso e o homem não parava de falar!!! Que vergonhaa! No fim só ouvi ele falando que nesse lugar têm muitos rapazes cubanos... (?!). Falou alguma coisa de samba... salsa! Deve ter achado que éramos qualquer coisa, menos mulheres casadas!!!

Não temos certeza se o cara entendeu o teor da conversa, mas o papo animado parou por ali!!

Fica aqui a dica: cuidado!!! Nem só os falantes de português entendem português!